Ativos reais estão sendo digitalizados através da blockchain, e esse processo veio para democratizar e quebrar barreiras que antes impediam o acesso a investimentos. E os mesmos avanços que permitiram o nascimento das criptomoedas, agora se transformam em outra solução: a tokenização. Um token nada mais é que um ativo real, como uma ação na bolsa, um imóvel, uma obra de arte dentre outras opções, que foi transformado em um ativo digital. Desse modo, ele pode ser negociado livremente através da blockchain, validando as transações com mais segurança.
Thiago Padovan é co-founder da Movements, iniciativa para criação de hubs de inovação, e co-founder da Blockchain Academy, pioneira na educação sobre criptomoedas. Ele também atua como curador e organizador do evento Economia Distribuída em parceria com a ABFintechs, e explica mais sobre como essa tecnologia irá guiar o mercado financeiro nos próximos anos. Conta que as primeiras iniciativas de tokenização nascem em 2014, prometendo outras formas de trocar ativos online. “Esse movimento visa permitir que cada um possa criar seus criptoativos, o que de ponto de vista financeiro, seria como transformar um ativo tradicional em um ativo 100% digital”, afirma Thiago.
Apesar de ser algo relativamente novo, a tokenização já mostra seu grande potencial. Segundo a consultoria MarketsandMarkets, este mercado deve crescer em média 19,5% ao ano entre 2020 e 2025, podendo chegar a valer US$4,8 bilhões. Padovan complementa que o cenário reflete um perfil do novo investidor, que preza pela agilidade nas transações e investimentos, além de buscar meios inovadores que estejam de acordo com a revolução digital.
Após a criação dos sandbox da CVM e do Banco Central, a tokenização entrou no radar do país, onde começam a ser desenvolvidas plataformas específicas para essa tecnologia. Padovan diz que, em um primeiro momento, bancos tradicionais ainda olhavam receosos para esta movimentação, ao contrário das fintechs. “O perfil dessas startups é de buscar inovações, pois está no DNA delas este olhar mais curioso para novos tipos de soluções”.
Thiago reforça que isso expande o alcance de investimentos como nunca antes visto no ambiente digital, permitindo que o ecossistema interno cresça sem estar ligado a outras instituições. “Essa descentralização vai nos levar para dentro de um mercado global de investimentos, com os nossos tokens rodando por plataformas em todo o mundo”, completa. Contudo, Padovan diz que ainda existem impasses regulatórios que estão para ser votados e estes, ainda atrasam algumas iniciativas, mas que isso não freou a vontade de investir nesse mercado. Recentemente, o Mercado Livre lançou a sua própria criptomoeda e o Nubank anunciou que em 2023 também terá o seu ativo virtual e que já está estruturando projetos para o mercado de tokenização.
Por ser um ativo digital, Thiago ressalta que o token pode ser distribuído entre diversos investidores, sendo assim, o ativo real pode ser fracionado entre os titulares e todos participarem dos dividendos. Além disso, por ser um modelo financeiro descentralizado, utilizando a blockchain como validadora, os tokens podem ser negociados sem qualquer limitação de fronteiras. “O token pode transitar entre as carteiras digitais dos investidores livremente, sem barreiras, pois não precisa de um intermediário para validar as transações. Outra vantagem está no tempo, pois as negociações funcionam de modo contínuo, 24 horas por dia, já que não estão presas ao horário de funcionamento das bolsas de valores”.
Um dos fatores mais relevantes da tokenização está na democratização que traz aos investimentos. Padovan explica que se antes tínhamos um mercado restrito a investidores experientes e com maior poder aquisitivo, o ativo digital permite que o pequeno investidor participe, mesmo que em menor valor, de uma fração daquele investimento. Para Thiago, o futuro da tokenização é óbvio e tem tudo para crescer, pois o potencial dessa tecnologia é levar o mercado financeiro além do que ele representa hoje. “Já vemos algumas iniciativas disruptivas de tokenização imobiliária e de tokens que representam ações de empresas. Este movimento vai virar a página de como fazemos investimentos, de todos os setores e cadeias produtivas, mudando a estrutura do mercado financeiro para sempre”, finaliza.